quarta-feira, 23 de junho de 2010

REACIONÁRIO? QUEM SABE!, por Paulo Brossard

Com sua dicacidade peculiar, o notável brasileiro Octávio Mangabeira lavrou uma sentença que correu mundo, “imagine um absurdo, por maior que seja, tem precedente na Bahia”. Dela me lembrei ao ler que Sócrates, ou o Dr. Sócrates, ou Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, craque de futebol e médico de nomeada, comentando a nossa Seleção à Copa da África, em entrevista a jornal britânico, formulou juízo, não direi absurdo, mas em tudo e por tudo surpreendente, “Dunga é gaúcho, do extremo sul do Brasil. E eles são os brasileiros mais reacionários”. Por que, não disse. De modo que ignoro as razões antropológicas ou de outra natureza que o teriam levado à curiosa conclusão, que cheira a um anátema.
Ao longo da minha vida, mais ou menos longa, tenho ouvido opiniões disparatadas a respeito de muitas situações, de modo que, mesmo as mais chocantes, já não me perturbam. Contudo, tantas vezes tenho visto brasileiros de várias regiões apontarem nos gaúchos qualidades progressistas, inovadoras e solidárias, que o juízo não diria socrático, ainda que do Dr. Sócrates, me causou estranheza por seu ineditismo e caráter dogmático. Graças ao autorizado pensador fica-se a saber, mas sem saber por que, que os gaúchos são os mais reacionários dos brasileiros. Aceite-se, para início de conversa, que os gaúchos sejam realmente ultrarreacionários. Ora, até onde sei, cada brasileiro, salvas as devidas exceções, nas quais me incluo, é um técnico em futebol, um doutor, um catedrático, de modo que, cada versão diverge das outras, razão por que as preferências serão inevitavelmente as mais díspares, seja qual for o eleito para escolher a Seleção e independentemente do eventual reacionarismo do escolhido.
O fato é que o filho da parteira se serviu da maiêutica para confundir os sofistas atenienses, enquanto o Sócrates brasileiro não conseguiu dizer por que os gaúchos seriam os mais reacionários dentre os brasileiros e muito menos a relação entre o progresso em todos os seus aspectos e o DNA dos gaúchos.
Em homenagem à original interpretação do Dr. Sócrates quanto ao reacionarismo gaúcho, devo reconhecer que, por aqui, também existem reacionários e, quando não existem, são importados espécimes da mais insigne aversão ao progresso. Aqui, por exemplo, foi lançado o Fórum Social Mundial, que trouxe consigo, como modelo, o francês Bové, que como um fanático se lançou à destruição de um horto florestal, que armazenava anos de estudo, comparação, seleção, aprimoramento, investimento, para ser reduzido a pó pelo reacionarismo dos bovés da vida, aqui glorificados. Ainda aqui, em uma noite, um lote de mulheres, ditas agricultoras, fez coisa semelhante com plantas que vinham sendo aprimoradas geneticamente, por iniciativa de entidade que tem cientistas a seu serviço e a serviço do país e da humanidade. Daqui foi enxotada a fábrica da Ford, que deixou o Rio Grande pela Bahia, onde montou uma fábrica moderna que se converteu em orgulho da boa terra. O Fórum Social Mundial tem como paradigma o coronel Chávez, que dia a dia vai sufocando seu país, reduzindo-o a um estranho campo de concentração.
Os exemplos podem ser multiplicados, todos relacionados com o reacionarismo mental que fez com que o Muro de Berlim, durante anos, fosse apresentado como ornamento comparável ao Partenon!
***
Há 70 anos, o mundo experimentou um momento de suprema angústia: a França capitulava e parecia que a Alemanha de Hitler, com a Itália de Mussolini e a Rússia de Stalin, então aliados, dominariam o mundo em trevas. Um desconhecido general recém promovido resolveu dizer “não” à derrota implacável. A França perdeu uma batalha, não perdeu a guerra. E, mesmo sentindo-se à frente do oceano para atravessá-lo a nado, anunciou que a França continuava a lutar até a vitória. Em agosto de 1944, De Gaulle, que fora condenado à morte, entrava em Paris e a pé marchou do Arco do Triunfo à Notre Dame. Banhado pela imortalidade, o visionário proclamou no Hotel De Ville “que a França voltava a Paris”. E voltava. E a França se chamava De Gaulle.

*Jurista, ministro aposentado do

Um comentário:

  1. Dr Brossard, precisamos de VS na política, para ajudar a moralizar este país!!!!!

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