Privilégios do “vice”, por Flávio Tavares*
O candidato a “vice” é um privilegiado. Estão aí os preparativos eleitorais mostrando que só se exige dele ser um acompanhante a esmo. Um “scort”, não muito diferente dos que figuram ao lado de homens ou mulheres para simular que não estão sós. Difere, talvez, só o tipo de remuneração.
As próximas eleições, em parte, giram mais em função do “vice” do que dos candidatos. Na área federal, a cobiça do PMDB concentra-se em indicar o vice de Dilma Rousseff. Os pretendentes não se sentem atraídos por afinidades com a candidata do PT, mas “apostam” no câncer que ela própria revelou com honesta coragem. Entre si, falam abertamente nisso, como se a doença fosse o fundamento da aliança!
No PSDB, José Serra é tão austero, que não exterioriza a luta silenciosa em torno do seu vice, depois que os escândalos de Brasília tornaram inviável um acompanhante do DEM, o antigo PFL.
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No Rio Grande do Sul, a busca do “scort” imita prosa de galpão.
O candidato José Fogaça procura um vice, não um programa de governo. Com a ansiedade de moça casamenteira que tenha tido aventuresca solteirice, trocando de namorado (ou de partidos) na esquina, dá sinais de aceitar o pretendente que lhe acene com noivado estrepitoso. E não há nada mais estrepitoso do que um acompanhante ridículo, que não resista a uma conversa com a família, mas que tudo o que diga circule campo afora nas rodas de chimarrão. “Falem mal, mas falem de mim”, diz o adágio. Além disso, no caso, a família são os eleitores, jamais consultados e só procurados para fisgar o voto.
Ao acompanhante, bastou ter saído na frente, imitando corrida de cavalos, em que o animal que se adianta no “partidor” leva vantagem. A sua aptidão é sair na frente, esporas ao vento.
Pensou nisto seriamente o candidato Fogaça, homem de vida séria?
Na primeira candidatura de Fernando Henrique à presidência da República, o vice indicado pelo PFL fora um político da Paraí-ba, exímio em somar votos e esvaziar alambiques. FH entendeu o perigo do ridículo e, com tato, fez seus aliados o substituírem pelo austero Marco Maciel.
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O candidato Tarso Genro busca também um “scort”. Diz-se que com afinco redobrado e nada mais natural, pois tem tradição em prestigiar o acompanhante.
Quando prefeito de Porto Alegre, entregou mais de metade do seu mandato de quatro anos ao vice, que ninguém conhecia. João Verle era homem correto, mas ninguém lhe dera voto algum e seu nome sequer apareceu na campanha eleitoral. Ou, ao aparecer, surgiu “ad latere” e apagado, sem que dele emergisse qualquer compromisso.
Desde que se vota apenas no titular do cargo, o vice pode ser um desconhecido absoluto, mas vira irmão siamês do candidato. O eleitor não tem a opção de rejeitá-lo ou votar em branco. A maioria nem sabe de sua existência.
Na primeira eleição municipal em Porto Alegre, em 1951 (até então, o governador nomeava o prefeito da Capital), Ildo Meneghetti derrotou Leonel Brizola por pouco mais de mil votos, mas o vice-prefeito eleito com folga foi Manuel Vargas, companheiro de Brizola. Votava-se em separado, posto a posto, não como na cegueira de hoje.
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Às vezes, porém, a cegueira ilumina. Alguns dos ocultos labirintos de corrupção no governo estadual vieram à luz através das denúncias do vice-governador Paulo Afonso Feijó. Sem contentar-se com a função de mudo acompanhante, já na campanha eleitoral distanciou-se de Yeda Crusius. No governo, tudo transformou-se em atrito irremovível.
Agora, ela e ele, em queixa, talvez culpem as más companhias!!
*Jornalista e escritor
Alguns dizem que vice não tem importância nenhuma. Eu discordo. Tanto que acredito que o cargo de Vice deveria ser eletivo tambem, como foi até 64. O ultimo vice presidente eleito do Brasil foi João Goulart, que acabou presidente por que o pinguço do Jânio Quadros acordou de porre e renunciou.
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