Vilnei Maria Ribeiro de Moraes*
Diante da notícia de que o Brasil está produzindo mais automóveis que os EUA, é possível imaginar quanta gente, neste exato momento, está como o pé no acelerador rodando por este nosso imenso território.
Para muitos escritores (hoje devotos de santo Word), existe, e sempre existiu, algo que se chama insight ou inspiração que vem lá do estoque universal das ideias. Nos cronistas, também existe uma grande atenção ao cotidiano; por isso, antes da concretização de um fato, começam a lhes incomodar algumas coisas que sub-repticiamente vão embrutecendo o dia a dia e cooptando a mentalidade humana.
Na percepção da quantidade cada vez maior de carros em nossas estradas, o insight já revelava previamente que, em pouco tempo, toda aquela parafernália mecânica estaria trancada ou andando a passos de tartaruga nos engarrafamentos.
É excelente produzir carros sob o ponto de vista do maior número de empregos, faturamento e satisfação mercadológica. Porém, é chegada a hora de perguntar onde estão as estradas e infraestruturas semelhantes às dos EUA para suportar, sem danos irreversíveis à integridade física das pessoas, toda essa frota surgida assim de uma hora para outra. Como resistir a veículos cada vez mais belos e mais baratos?
Para não perder a capacidade de detectar as forças destrutivas do espírito saudável, a sensibilidade precisa ficar imune ao ruído da sociedade, que muitas vezes venera apenas o sucesso financeiro e seus momentos feéricos e imediatistas.
Mas, de qualquer sorte, apesar da ausência de estradas, havemos de convir que aqui nos recônditos da sociedade mundial é coerente todo esse encantamento por automóveis que são máquinas sofisticadíssimas, se, afinal de contas, os nossos ancestrais se encantavam com simples apitos e colares de vidro.Atualmente, ou melhor, desde sempre, para cada verdade surgem mil ilusões lucrativas. Por esse motivo, a cultura sempre foi a melhor lupa contra as fantasias utilmente estabelecidas. Cultura e raciocínio, combinados com inspiração, são capazes de impor um freio, muitas vezes considerado impertinente, à realidade consumista. Eles também podem indicar soluções que dependem apenas da inteligência: imagine-se, por exemplo, que imensa jogada de marketing se determinada montadora resolvesse adotar a duplicação ou a sinalização de uma grande rodovia; tornando assim muito mais simpático o seu produto e a sua marca!
Neste tempo de Copa do Mundo, é oportuno parodiar uma antiga música dizendo que este é um país que “um dia” ainda vai pra frente. Seria bastante louvável se ele e todos os demais países conseguissem, pelo menos, acelerar da maneira mais sensata possível nesta irrisória estufa onde todos vivemos.
*Engenheiro civil
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