Afonso Motta*
Após a bem-sucedida campanha digital online que ajudou a eleger Barack Obama nos Estados Unidos, os candidatos presidenciais brasileiros começam a estruturar seus núcleos de internet. Entretanto, antes de qualquer iniciativa, convém não esquecer que o primeiro presidente negro americano foi eleito essencialmente por incorporar valores civilizatórios, tão caros nesta quadra da humanidade. Portanto, a informação de texto, áudio e vídeo que vai alimentar o debate em cada site terá de identificar a biografia dos candidatos com o eleitorado, especialmente naquilo que possa traduzir a trajetória pessoal de cada um. A rede gosta da história contada e de saber como as oportunidades foram conquistadas, circunstâncias e desafios, a adversidade e as relações pessoais.
Talvez conte mais para este público conhecer como foi viver no exílio político ou combater a ditadura militar na clandestinidade do que o viés programático, ou ações de um futuro governo. O que é realmente o candidato, de onde vêm seus valores e referências, os atributos que esta nova mídia permitirá ao eleitor avaliar. É da índole do internauta comparar, pesquisar, só que com uma curiosidade diferente da mídia tradicional, traduzida normalmente em interesse efetivo. É a busca de algo interessante. Mesmo que nos padrões tradicionais o tema possa não ser tão qualificado.
A atratividade online conta não só pelo conteúdo, mas pelo formato e desenho. Daí por que comparar governos possa não ter neste meio a mesma repercussão do que um breve depoimento que diga qual a expectativa para que uma boa administração possa melhorar a qualidade de vida das pessoas. Sutilezas interpretadas e colocadas de outra forma, rendendo mais do ponto de vista do interesse da audiência e da consequente adesão a uma ou outra candidatura. Como a liberdade da rede permite a circulação de fatos negativos, intrigas, fofocas e adversidades dos candidatos, o que se denomina “campanha negativa”, como é exemplo o site “gente que mente”, é bom estar preparado para contrapor estas agressões com linguagem e tom adequados, porque o inevitável julgamento também vai considerar as posturas que fazem parte das regras virtuais da internet.
Engano, no meu ponto de vista, imaginar que as preferências aos candidatos vão se estabelecer pelas realizações de cada governo ou pelo suposto patrimônio político de cada partido ou coligação. As redes sociais que estão na web são ambientes com uma dimensão pública que até agora não existiram. São milhões de pessoas expressando suas opiniões e esperando retorno. É a participação e o debate que não temos na forma tradicional. Fazer um comício para este público e esperar palmas é ilusão. Aqui ocorre uma espécie de inversão, tem de ser falado o que é do interesse do internauta eleitor. Ademais, cada um vai emitir opinião e desejar retorno sobre sua participação. É bom saber que grande parte dos internautas não participaria da campanha se não fosse a web. De outra parte, convém não alimentar muita esperança na doação de campanha via internet. Não é da tradição brasileira a contribuição de pessoas físicas com dinheiro para as candidaturas. Conta ainda o baixo crédito dos políticos, há uma evidente indignação. Mas não custa tentar, vai depender da forma de abordagem e dos argumentos de convencimento.
Verdade é que a internet avança para ser o grande fórum de debates das próximas eleições, através das biografias e propostas inseridas nos sites, mas especialmente pelos relacionamentos e apoiadores conquistados nas redes sociais como Orkut, Facebook e Twitter. É este instrumental que vai permitir ao eleitor ligado na rede obter com transparência informações sobre seu candidato, seus propósitos, visão de mundo, trajetória e proceder. Mesmo não sendo tudo, porque a legitimação, o reconhecimento vai se efetivar no amplo espaço da sociedade civil, será o processo fascinante e inovador para o pleito de 2010.
*Advogado e produtor rural
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