sábado, 20 de março de 2010

O mundo é circunstancial

20 de março de 2010 N° 16280 ZERO HORA

JORGE CARLOS MASTROBERTE*

Ao longo da vida, estamos expostos a dois tipos de circunstâncias, as proporcionadas pela natureza e as produzidas pelos homens.
São relevantes para nós as circunstâncias do dia a dia que nos afetam de forma positiva ou negativa, variável em quantidade, tamanho e proporção de indivíduo para indivíduo. Felicidade, tristeza, bom, ruim são dualidades que fazem parte da natureza humana. Inimaginável uma forma de vida em que houvesse somente um polo de atração. Algo não condizente com o enigma que nos originou.
As diferentes percepções e reações diante das circunstâncias em muito respondem os motivos pelos quais ao longo da trajetória existencial percebemos que, embora semelhantes na aparência, não somos iguais.
No passado não muito distante, os sobreviventes dos confrontos, os descontentes de todas as espécies, procuravam novos horizontes nunca antes habitados e tudo parecia estar resolvido. Hoje sabemos que tudo mudou, há poucos lugares disponíveis ainda não povoados para onde poderíamos partir em busca de novas circunstâncias.
A intensidade dos conflitos entre pessoas e comunidades está intimamente ligada com inabilidade de administrar e controlar as circunstâncias antagônicas criadas de forma voluntária pelos próprios indivíduos. A natureza, embora imponha limites, não é contrária a nossa presença, haja vista os bilhões da espécie espalhados por todo o planeta. O problema do homem é ter que conviver com outros homens.
As circunstâncias por nós presenciadas são armazenadas dentro do nosso computador natural, o “cérebro”, e diariamente vão moldando a forma de sermos e de enxergarmos o mundo da vida ao nosso redor. A diferença entre o computador natural e o artificial é o fato de não termos a faculdade de apagar para sempre determinados registros, resultado das circunstâncias desagradáveis arquivadas em espaço nobre, e que temos que carregar durante toda a vida, pois são indeléveis. O máximo que conseguimos, com muito esforço e ajuda de especialistas, é nos proteger das eventuais aberturas das pastas que contêm esses registros.
A maior parte das pesquisas científicas é concentrada no sentido de adaptar a natureza às necessidades do homem. Pouquíssimo tempo é disponibilizado com questões que dizem respeito ao aperfeiçoamento das relações entre os homens, visando à equalização e à harmonia das circunstâncias produzidas por nós mesmos.
Esta é a questão a ser respondida no curto prazo, e que tem causado noites de insônia e pesadelos para os cientistas e alguns dirigentes esclarecidos a quem atribuímos a responsabilidade pelo destino da humanidade. Como conviver de forma democrática com as limitações impostas pela natureza e as circunstâncias humanas inaceitáveis para muitos? Há um flagrante desequilíbrio nas nossas relações que pende significativamente para o polo negativo das atrações.

*Advogado e contador

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